quarta-feira, 28 de março de 2018


O chorume que escorre

Vivemos tempos sombrios em que absolutamente nada tem limites e a realidade se apresenta pelo avesso. Duas premissas fundamentais para a sobrevivência (individua e social) estão sendo sistematicamente sabotadas sem maiores constrangimentos.
Em primeiro lugar, a elites do país corroeu a regra, funcional e necessária, de que todo sistema necessita ter coerência e manter a aparência de que suas regras são justas e iguais para todos. Para tanto, os privilégios devem ser discretos, imperceptíveis para a população em geral. Não é viável um sistema que afirma que a lei não é igual para todos. A Constituição brasileira dispõe que a lei é igual para todos, entretanto, a realidade anuncia e escancara em seus alto-falantes que os privilégios pululam e escorrem por fendas cada vez mais largas. Os privilégios corporativos são os mais visíveis, posto que banhados e enxaguados em excessos e arrogância. Entretanto, é no Judiciário pátrio que a manipulação (ideológica) se apresenta como uma fratura exposta. Evidentemente que no país do jeitinho, do compadrio, do nepotismo e outros ismos, o Judiciário como um todo apresenta desvios e mesmo crimes perpetrados por magistrados, sendo a corrupção difusa e dependente do estofo moral individual. Esta situação se torna insustentável (ideologicamente) quando esta crise se afunila para o STF que é o símbolo maior da ideia de justiça. No bojo da crise institucional provocada e alimentada pelo Partido dos Trabalhadores (capitaneada por Lula), o STF vem deixando claro para a população que a lei não é igual para todos. Tal cenário institucional, rudemente antidemocrático, é sustentável? É viável a permanência e continuidade de um regime que confessa e pratica a desigualdade dos cidadãos perante a lei?
A segunda premissa detonada se refere a tomar fatos reais pelo avesso, costurar narrativas desgarradas da realidade e tentar impô-las à sociedade como um todo. Não estou me referindo à manipulação e/ou falseamento de determinados incidentes, mas as narrativas clara e sabidamente absurdas para a população em geral. É como afirmar, com natural empáfia, que uma geladeira não é uma geladeira, mas, sim, um urso pardo que durante a noite passeia pelos telhados da vizinhança com o fito de apaziguar o fervor do cio com as gatas vadias. Claro e evidente que tal afirmação contraria a lógica, mas, se repetida exaustivamente (dependendo de quem e por quem), tende a ser discutida com certa dose de seriedade. A partir deste momento, os defensores de tal embuste adentram solenes e cínicos no terreno da hipocrisia deslavada.
Todo este concerto canalha objetiva a obtenção de vantagens e privilégios pessoais ou corporativos em detrimento da sociedade em geral e, em sendo, não deveriam, apesar das máscaras, serem catalogados como militantes ideológicos, muito menos de esquerda.
A sessão do STF do dia 21/03/2018 é emblemática, um marco-limite que encerra a possibilidade de vigência do Estado Democrático de Direito no país. Nela (além de outras anteriores) estão as impressões digitais e o DNA da perversão da justiça, tanto em teoria quanto na prática. Não há como justificar o julgamento do HC (preventivo) do Lula sob diversos aspectos. Existiam inúmeros HCs impetrados antes deste, não poderia gozar de urgência uma vez que o impetrante estava em liberdade. No momento em que a sessão do STF foi encerrada, todos os ministros lá estavam presentes e uma possível ameaça de abandono de dois deles não criaria quórum impeditivo, pois poderiam decidir a questão com até 8 (oito) presentes. A cereja do bolo foi a inserção do jabuti traduzido num salvo-conduto que cria sérios e incontornáveis problemas ao Judiciário. Ao conceder o salvo-conduto ao Lula, o STF inventou no afogadilho da corrupção a jurisprudência da responsabilidade do Judiciário em suas impossibilidades fáticas, ou seja, se não podemos julgar hoje um HC, a culpa é nossa e não do litigante e, desta forma, ele gozará do que pede até que possamos julgar. Por tal jurisprudência, todos os HCs impetrados antes deste do Lula deveriam gozar do mesmo privilégio jurisprudencial (salvo-conduto), uma vez que não foram julgados por culpa do STF. Observe-se que o HC do Lula é preventivo, ao passo que muitos outros da estão na fila de julgamento se reportam a pessoas efetivamente presas. Observe-se, ainda, que não é razoável a decretação de um recesso (apenas para o STF) de uma semana, por conta de um feriado cair numa sexta-feira.
Em toda sociedade existem as leis e os costumes que andam em paralelo e se interpenetram e se complementam. Há a possibilidade de que legalmente os ministros do STF consigam justificar suas atuações, mas é certo que deixam indícios robustos de que andam defendendo interesses pessoais ou corporativos, afastados das leis a que deveriam cumprir e fazer cumprir. Sob a ótica dos costumes, para a sociedade em geral fica muito claro que ministros como Toffoli, Levandowski e Gilmar, nada mais fazem do que defender grupos de interesses, ao arrepio da lei. Chafurdam cotidianamente num lixão moral e o chorume que escorre tem por finalidade asfixiar a sociedade e as suas esperanças.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Em terra de sapo, de cócoras com ele

A rigor, nada na administração pública deveria ser objeto de segredo. Entretanto, na modernidade selvagem em que nos encontramos, existe uma justificativa razoável para que determinados episódios, que envolvem realmente a segurança do país, sejam mantidos ocultos por tempo determinados. Evidentemente, interesses pessoais ou partidários, acabaram por banalizar este instituto legal e muitos segredos “legais” servem para acobertar crimes cometidos até contra o povo e a cidadania.
Não por revanchismo, mas por prudência, o governo do Temer deveria efetuar auditorias em todos os setores da administração sob o controle do executivo e divulgar com maciçamente os seus resultados.
Tal receituário se mostra urgentemente necessário em função de uma realidade que aponta inúmeros indícios e provas de que os governos anteriores bracejaram com audácia e desenvoltura num mar de corrupção e que, como reação defensiva (?), instigam o ódio levado à inconsequência de levar o país a uma ruptura institucional.
Constata-se que os órgãos de governo estão literalmente aparelhados, fato que pressupõe riscos às ações administrativas do executivo, bem como a ocultação de malfeitos de variados calibres.
Como corolário, salutar seria o rompimento do pacto de impunidade em que ações do governo anterior não são investigadas nem denunciadas, o que se reveste em crime prevaricação na condução da coisa pública.

Cultivamos no seio da sociedade uma monstruosa e generalizada sensação de desconfiança que vem corroendo a credibilidade das instituições e tal providência deveria ser elevada a marco inicial de todo governo, uma tradição necessária e benigna, o que decerto contribuiria para maior transparência e tranquilidade da nação.

Os arrivistas do pixuleco

A história se repete não propriamente como uma farsa, mas travestida de comédia pastelão. A fusão dos ministérios da Cultura e da Educação teve o condão de acirrar uma discussão que seria absolutamente estéril, não fosse o inestimável desmascaramento da classe “artística” que, através de declarações envolvidas numa pretensa postura de esquerda, nada mais representam do que a confissão de que nada entendem de cultura, mas que estão afiados e perseverantes em espoliar o povo através de “apoios” culturais só justificáveis numa oligarquia.
Por trás dos protestos contra a fusão ministerial, pode-se detectar claramente uma intenção de tratar da questão político-partidária do que de política cultural, não fossem os discordantes (em sua maioria esmagadora) contemplados por verbas públicas sob a justificativa escrota de contribuírem com a cultura pátria.
Assim como procedeu nos demais compartimentos sociais e no próprio Estado, no sentido de aparelhamento, os governos petistas, através de concessões individuais de verbas públicas para “artistas”, conseguiram, em grande medida, transformá-los em verdadeiros e patéticos pelegos “culturais”.
Salta aos olhos o despreparo e ignorância destes “artistas”, na medida em que, no bojo das suas manifestações, traduzem cultura como se esta fosse “arte”. Tal postura desvela um despreparo total e os desqualificam como pretensos defensores – Quixotes mal ajambrados -, baluartes da cultura.
Grosso modo (com raras exceções) estes paladinos de uma causa ensandecida, se consideram expoentes da classe artística, mas nem chegam a ser, pois representam apenas os substratos degradados de uma indústria cultural que os tornou famosos, endinheirados e portadores de privilégios que lhes garantem livre acesso aos pixulecos variados e superfaturados. Mesmo que fossem artistas na acepção da palavra, não seriam de fundamental importância para a administração da cultura de um país.
A verdadeira expressão artística independe de mídia, de fama e de condições nababescas de vida material, pois a arte é fruto do talento extraordinário e este não se situa nos mundanismos fúteis das vaidades pronunciadas. Estes manifestos/protestos não são em favor da cultura, mas literalmente em defesa de uma sinecura, na manutenção de um modus operandi que garante inúmeros privilégios a olimpianos vazios, famosos e ricos, mas destituídos de arte e de compaixão para com os despossuídos deste país, despossuídos estes que, por ironia, os idolatram, os incensam e por eles são enganados. São frutos midiáticos e não da arte.
Inúmeros projetos aprovados pela Lei Rouanet (para “artistas” famosos que dela não necessitam, pois que superavitários em suas bilheterias ou vendagens), além de injustificáveis são flagrantemente superfaturados em valores que não resistem a uma auditoria executada por crianças do jardim de infância.

Tudo isso se dá à sombra de consciências entorpecidas pela alienação produzida em suas consciências e que os levaram a um ponto-limite de esquecerem que estes pixulecos legalmente instituídos, são em verdade a expropriação de uma riqueza produzida pelo povo trabalhador que sobrevive em condições subumanas e para os quais um showzinho rebolativo, um livrinho tatibitati, uma teatralizaçãozinha feita nas coxas, nada mais são que perfumarias incultas transformadas em urros de autoritarismo e vivas à hipocrisia.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Forma e conteúdo

Afora as perversas, as ideologias preconizam fórmulas para as sociedades evoluírem no sentido de lograr melhor qualidade de vida e harmonia entre os homens. Seja o capitalismo, capitaneado pela ideia de que o mercado regula as relações materiais e apazigua as sociais, seja o comunismo no qual o estado seria o condutor e controlador de todo o processo que, por consequência, desaguaria numa igualdade entre os seres.
O traço comum entre as ideologias (políticas, religiosas e filosóficas) é a busca de uma fórmula para a construção de mundo melhor. A contradição mais flagrante se desnuda quando verificamos que a busca por um mundo melhor se transmuta numa luta pelo triunfo e imposição de um método determinado, seja capitalista, fascista, socialista ou comunista. O efeito de convencimento de tais formas de pensamento cria raízes profundas numa fé teleológica, mesmo irracional. É como se a felicidade humana só tivesse algum valor se alcançada através das trilhas de determinado pensamento consolidado e embrulhado sob um especial e cabalístico título pomposo.
Minha convicção é a de que as sociedades, acima das ideologias, necessitam viver com dignidade, criar um mundo menos áspero para os despossuídos materialmente e propiciar meios de redimir intelectualmente os bestializados através de uma inclusão mais fraterna. Nesta equação é indiferente sob qual regime se vive, desde que se avance na conquista desse desiderato.
Entretanto, observando a conjuntura de crise que o país atravessa, o que mais ressalta são as relações de poder, realçadas pela intolerância de uma corrente ideológica agrupada em torno de um partido que, contraditoriamente, não se perfila consoante os seus postulados. Mais uma vez aprofundamos a escolha equivocada optando a forma e descartando o conteúdo. Formalmente o PT se apresenta como um partido de esquerda, mas na prática consumiu treze anos de poder desenvolvendo políticas neoliberais embebidas em erráticas ações de cunho assistencialista que fariam qualquer comunista corar de vergonha. Ao final, e que pese o agudo descontrole da gestão pública, as esquerdas resistiram a uma mudança que se mostrava razoável, urgente e inescapável face ao esgotamento do modelo posto em prática. Restava patente que, com mais dois anos de administração de Dilma Roussef, o país se aprofundaria num atoleiro que, num mar de desesperanças, o conduziria à anomia. Mas um viés fundamentalista aflora e prefere o caos comandado pelo ideário da predileção ao equilíbrio que uma mudança possa proporcionar, ou seja, as únicas melhorias bem-vindas são as proporcionadas pelo meu método de predileção, as melhorias intentadas pelos “inimigos” serão alvo do meu boicote e inviabilização.

Provavelmente, se o vice-presidente a assumir fosse do PT e tivesse o carimbo inconteste (mesmo que formal) de ser de esquerda, as reações seriam outras. Fosse Lula a substituir a Dilma, o impeachment deixaria de ser golpe e, muito provavelmente, seria abençoado por todos estes que hoje vociferam contra as instituições e a Constituição, que foi batizada de cidadã, mas que também se limitou à forma, pois não foi preenchida de conteúdos que a tornasse, na prática, num instrumento de justiça social.

sábado, 14 de maio de 2016

De arte e de rinocerontes

Faz muito tempo que elaborei o artigo abaixo e anos depois publiquei no meu livro de memórias “A memória do tempo em nós” (2009). Entretanto, avalio que texto foi reatualizado pela ironia que se faz presente, através da irreformável aspiração burguesa, eternamente inarredável em personagens que se acreditam artistas, eruditos ou populares. A propósito dos protestos desses “artistas” sobre a recriação do Ministério da Educação e Cultura (governo Temer), que eles consideram como sendo o fim do Ministério da Cultura o funeral da própria cultura no país, exponho um artigo sobre o mesmo fato que ocorreu no governo Collor. Apesar de ser um texto datado, as circunstâncias permanecem as mesmas e os problemas culturais foram aprofundados pelo reforço de políticas ancoradas em filhotismo e dirigismo, bem ao gosto da esquerda burguesa. Como sempre, confirmando o axioma do velho Marx, a história se repete como farsa, numa comédia de pastelão grávida de hipocrisia e entrecortada pelo rancor oriundo da perda de privilégios. Neste antigo texto, o debate foi travado com Augusto Boal, mas hoje fica difícil encontrar um verdadeiro artista para fazer o mesmo.

De arte e de rinocerontes

Já que estamos em casa de enforcado, falemos de corda. Obviamente, a informação é controlada e não é novidade o que nos ensina Bagdikian, de que “o dono do jornal tem o poder de demitir, admitir, promover, e pode controlar o conteúdo do seu jornal por meios que vão desde a intervenção direta até as pressões sutis”, mas este controle não se restringe apenas ao “dono do jornal”. Existem os intermediários (tradutores, chefes, repórteres, etc.) portadores de “micropoderes”, além de todo um inextricável emaranhado de combinações e interesses a serem administrados.
Nunca me ocorrera escrever para jornais ou revistas na desconfortável condição de “intruso”. As vezes que escrevi alguma coisa foi a convite e na qualidade modesta de colaborador. A exceção ocorreu por um motivo que, à época, considerei justo e que consistia numa réplica a um artigo do teatrólogo Augusto Boal, e tinha a finalidade de ampliar o debate.
Apesar de panfletário, provocativo e dos pesares, eis a prova do meu crime.
Diz o ditado que reconhecer o erro já é meio caminho andado. Parar o que está errado evita trabalho e desperdício.
Por longos e penosos anos assistimos indignados e impotentes à implantação de um modelo perverso de desenvolvimento em que, as injustiças socioeconômicas de mãos dadas com a ausência de ética e justiça, amesquinharam e depauperaram moral e materialmente a nação. A política cultural nesses anos não se constituiu em exceção (e por que seria?) e foi norteada pela mesma lógica. Estava inserida no modelo. Era mais um elo do modelo. Toda a estrutura insana que foi montada, e que nossa brava intelectualidade de esquerda combateu e combate, estava e está presente na área artístico-cultural. Assim como o BNH financiou moradias de luxo ou mesmo mansões em detrimento de casas populares, muitas instituições oficiais financiaram, com o dinheiro público, determinados “projetos culturais” em detrimento da dieta cultural da população. Mansões que o povo jamais habitou, “projetos culturais” que o povo sequer tomou conhecimento. Mansões para a elite, “projetos culturais” para a mesma elite. Extinto o BNH, o clamor que se ouviu foi o da garantia de empregos e manutenção de privilégios das grandes construtoras e imobiliárias, ao invés da discussão de um novo projeto que viabilizasse habitação e saneamento básico para as famílias de baixa renda. Mas a extinção do BNH, mesmo que por motivos outros, impediu a continuidade de uma aberração legitimada. Por analogia, e sem entrar nos imperativos histérico-demagógicos do governo Collor, o efeito é o mesmo, ou seja, deixa de financiar (compulsoriamente) os “projetos culturais” aos quais ele não tem acesso ou voz. São as mansões culturais. A exemplo do incidente com o BNH, a “classe artística”, ao invés de debater projetos e propor programas para a área, passou a espernear, a protestar contra o estancamento das torneiras. Tetas fartas, grávidas e generosas. Verbas para quê? Para a perpetuação do modelo, para garantir privilégios. E qual é o modelo? Cruamente pode ser resumido da seguinte forma: o Estado dá um “cala a boca”, e, com isso, finge realizar uma política cultural, e os “produtores culturais” fingem exercitar a cultura. Eu finjo, tu finges, pactuamos, fundamos uma verdade e nos locupletamos.
Não conheço, até a presente data, nenhuma carta aberta à nação, indignada com a falta de apoio ao cordel, ao pastoril, ao circo, ao teatro de rua que alguma comunidade queira desenvolver no interior do Acre. Para a classe artística, arte e cultura são o que ela mesma determina enquanto arte e cultura.
De tão preocupada com o próprio umbigo, o que a “classe” ainda não entendeu é que precisamos de uma política cultural para a nação e não para a “classe”. Uma política cultural que preserve a liberdade das manifestações que, em última instância, são a identidade e a alma do povo. Que tal mais educação? Mais livros, mais bibliotecas, teatros em regiões carentes? E a TV Educativa?
O desafio imediato é romper este ciclo vicioso no qual nos atolamos nestes longos anos de chumbo e não nos apercebemos ou não conseguimos evitar. Foi um processo lento e sub-reptício a que fomos submetidos o qual denomino de mitificação por conveniência. Acredito que, em sua maioria, os componentes da esquerda, militantes partidários ou não, buscam transformar a sociedade, sonham melhorá-la, torná-la mais justa e fraterna. A utopia que nos incendeia está assentada (além da teoria) em pressupostos éticos tais como: verdade, justiça, igualdade, etc. O que ocorreu e não nos apercebemos de imediato, foi que, no afã, na miragem da consecução desses ideais, contraditoriamente, acabamos negando um a um estes sentimentos generosos. Os negamos não por perversidade, mas por estarmos inseridos num processo de luta que nos fez abortar o livre exercício da crítica, mesmo no esboço. Criticar um companheiro, principalmente de projeção pública, seria “fazer o jogo da direita”. Incensamos nossos mitos, calamos/compactuamos, varremos para debaixo do tapete as suas (nossas) falhas, pois que humanas. Cevamos personalidades inúteis, pois que vazias. E a verdade? E a honestidade de princípios? E a ética? E a justiça? Foram sacrificadas em função dos fins que eram verdadeiros, honestos, éticos e justos. Estes os ingredientes do dogma, estes os nossos grilhões, os nossos pecados. Em vista do resto, erramos pouco, mas erramos. Ao reconhecermos o erro, temos que exorcizar esses fantasmas espetaculares.
Este pacto contraditório que nos levou a calar, no atacado e no varejo, com Stálin e miudezas, pode ser ilustrado com o exemplo patético de Glauber genializando a raça com Golbery. Patrulhamento ideológico à parte, pode-se, sem esforço, arguir dezenas de motivos que descaracterizam Golbery enquanto gênio. O que fica de importante é exatamente o nosso silêncio sepulcral ante a irrelevância deste e de outros fatos. Glauber mitificado, acima da crítica, do certo e do errado. Semideus, guru do desbunde baiano. Silenciar a consciência é dilacerar o afeto, é apequenar a vida, a própria luta pela vida.
O discurso de Boal enfocando a política cultural (sic) do atual governo, apesar da aparente coerência, se esgota na aparência. Tem todos os ingredientes que serviram para sedimentar uma forma de ser e (re)produzir uma realidade dissociada do povo deste país. Após tantos anos de conivências e conveniências, é dada a hora de rompermos definitivamente este pacto de hipocrisias, permissivo e corrosivo, pois que atende supostos interesses gerais, mas que, no fundo, atende particularidades pessoais, uma vez que deu as costas para a sociedade. Este pacto entre anormais estendeu-se por todos os segmentos sociais e, na área artístico-cultural, possibilitou a existência da figura sinistra do artista sem arte. Para ser artista sem arte, o requisito imprescindível é uma redefinição, sob medida, da arte. Para sermos uma coisa falsa, temos que degradar a coisa.
Há uma estranheza sintomática e muito particular com determinado tipo de artista no Brasil, que é exatamente o fato de ser um tipo. São muito parecidos, como se fabricados em linha de montagem. Comungam gestos, gírias, dialetos, aspirações, consumo, temática, lugares da moda... Muito sofisticados, muito iguais, inclusive na... “arte”. Como se um país com estas dimensões, diferenças regionais e abismos sociais, estivesse sedimentada uma cultura única e representativa: a que é produzida, pasteurizada e industrializada pelas elites culturais do eixo Rio-São Paulo, numa unanimidade estranha e sintomática. Tipologia besta.
Num determinado momento, sob o signo da hipocrisia, os nossos caros “artistas” desfilam seus simulacros ante uma confraria de idiotizados para, sob a escusa de fazer arte, adquirir prestígio e, no momento seguinte, subservir ao poder e adquirir dinheiro. Muito dinheiro. Acima de qualquer suspeita, são suspeitos. Falam em arte, falam em cultura, escrevem cartas abertas à nação e têm tribunas cativas. Suas práticas não demonstram que sabem o que é arte, cultura ou nação.
Ante o escombro moral de um quadro grotesco no qual o Estado se consubstancia em verdadeiro Robin Hood às avessas, aprofundando o axioma de “privatização dos lucros e socialização das perdas”, qualquer mudança que acene com a redefinição entre público e privado requer projetos e não protestos de quem perdeu “a boquinha”.
Acompanhando a atual “demarche” entre governo e intelectualidade, observamos que a superficialidade que impera não esgota a pauta a ser estabelecida, e que devemos aproveitar a oportunidade para aprofundar o debate.
Não devemos confiar em demasia na estreiteza do conceito de arte ora em vigor, assim como devemos desconfiar da extrema vulgaridade com a qual é feita a transposição de cultura para arte. Apesar de acadêmica, esta questão é de muita utilidade prática.
O exercício de romper o ciclo decadente é observar criticamente os semideuses banidos do Olimpo. Reduzidos à condição de simples mortais, conseguem mediocridades insuspeitas. Salta aos olhos a fragilidade e incoerência das argumentações do mestre Boal, que, de resto, são o mote paradigmático de uma classe artística aburguesada e esclerosada, embora proprietária (de forma monopolista) do pensamento de esquerda. Chegamos ao ponto limite da permissividade ao consentirmos que alguns se apropriem privadamente das nossas abstrações. Pois é: o feijão é expropriado pela direita e o sonho pela esquerda... Mas que diabo de esquerda é essa? A nossa que, abaixo e acima do Equador, em sua maioria, em suas práticas, demonstra um apetite voraz e ímpar por aspirações burguesas. Privadamente proprietária (no sentido marxista e pejorativo) das verdades, não necessita de debate, requer adoração.
Estamos, nesses tempos, assistindo ao funeral disso tudo. O que os apressados coveiros não sabem é que talvez não estejam enterrando o cadáver do comunismo mas, sim, a falência da generosidade, da abnegação e do desprendimento humano. Talvez estejam enterrando, na cova rasa da indigência, pedaços de humanidade. Talvez, no interior do ataúde, não estejam os restos mortais de Marx, Engels, Gramsci ou Guevara, mas sim a vaidade, o egoísmo e a prepotência.
Incoerência? Falta de rigor? Para entender política cultural, é imprescindível a diferenciação entre arte, cultura e indústria cultural.
Segundo Boal, o perigo mortal para o artista é a arte tornar-se mercadoria e como tal, ser manipulada pela propaganda, via mercado. Ora, sob o signo do capitalismo, o trabalho é uma mercadoria que, submetida aos imperativos do mercado, sofre a degradação. Nem por isso, escutamos os ecos do passado de intelectuais solicitando subvenções governamentais para outras profissões. O produtor cultural é que se submete aos desígnios mercadológicos e passa a produzir mercadorias, a exemplo de qualquer produtor. O artista é aquele que não se submete.
Em verdade, o que anda deixando perplexa a “classe artística” tupiniquim, não é uma possível política governamental para a área cultural, mas sim um processo que vem de longa data corroendo as suas entranhas e que ela não ousa encarar uma vez que foi cúmplice, deixou-se seduzir, relaxou e gozou, apesar da curra não ser inevitável. Não é o discurso “collorido” do atual governo, ou o que ele possa vir a fazer ou não em matéria cultural que entregará todo o poder aos rinocerontes, como afirma o Boal. Este processo já foi efetuado sistemática e conscientemente pelos nossos bravos “artistas” que agora se deparam com o preço cobrado: o aviltamento. Submetidos, passaram a ser simples mortais, perderam a magia e a possibilidade da utopia. Venderam o trabalho enquanto mercadoria, submeteram-se ao assalariamento e ficam a estertorar requerimentos de diferenciações. Este mesmo processo submeteu algumas profissões (médico, professor, etc.) e nem por isso a distinção encontrou justificativas. A arte é essencialmente subversiva e incontrolável. Ela sobrevive com, sem e apesar das benesses do Estado, pois estas, o mais das vezes, servem para abastardá-la.
Quem tem um mínimo de dignidade pode prescindir de exercícios oratórios em defesa de subvenções estatais. Quem carrega em si um mínimo de humanidade prescinde de lançar mão de um dinheiro que pertence a um povo espoliado, despossuído, faminto, sem cidadania ou redenção. Em relação ao todo da população, a classe artística está situada de forma privilegiada e pode abrir mão de cartórios e contribuir generosamente, crescendo junto ao e com o povo. Os que discordam devem se dirigir à submissão a mercado e suas leis leoninas. O que é inconciliável é o discurso armado sobre uma verdadeira chantagem espoliativa: ou o povo me subvenciona ou me prostituo com o primeiro mercador que piscar os olhos. A questão é ética (artística) e não econômica ou, no seu reverso, é econômica e não ética. O resto é discurso maniqueísta.
O que esta arte aviltada, sob os auspícios de verbas federais, tem feito pelo povo? O que os “artistas” têm feito pelo povo? Quem se perfilou no cordão dos agraciados, dos querubins, dos ungidos? Qual o critério que um burocrata usa para promover a distribuição de subvenções.
Espanta a desenvoltura com que a turma do capital e do poder fala e manipula o dinheiro do Estado. Espanta duplamente quando intelectuais o fazem. O dinheiro do Estado, sabemos todos, é nada mais que o dinheiro de todos e, nesse caso, deveria existir todo um rigor em sua utilização. Um rigor ético, religioso até.
Em que projetos culturais foram parar as verbas nestes anos todos? Em que isso contribuiu para o povo em geral? Como esses benefícios atingiram o povo?
O modelo não se prestava a isso. Previa apenas um efeito demonstração, bem a gosto das elites vampirescas. O mundo subdesenvolvido tem ópera? Tem ballet? Tem corpo de baile? Tem artistas internacionais? Tem luxo e requinte? Tem frescuras que só ele entende? Tem supérfluos que só ele tem cacife? Pois bem, nós também temos e mais uma vez a nossa honra pátria está salva. Yes, nós have banana. Pobre gosta de luxo e a irresponsabilidade não paga pedágios nem dá cadeia.
A cultura produzida com o dinheiro do povo serviu ao povo ou a uma minoria privilegiada? Essa cultura encerra todos os predicados da decadência e da desmoralização.
Precisamos encerrar de vez a hipocrisia do “me engana que eu gosto” e da aceitação de uma visão de “artistas” e “produtores culturais” pensados e relatados como coisas ideais. São reais e participantes do processo histórico e têm responsabilidades ante as mazelas produzidas e expostas. Criticar circunstancialmente a ganância ibopeana, a pornografia televisiva ou a corrupção do mercado, sem observar com honestidade as suas causas históricas, é fingir que antes estávamos no melhor dos mundos, que antes nada disso existia.
Sabemos, como afirma o Boal, que “aceitando-se o mercado, aceitam-se suas leis. E são as leis do mercado – as leis da oferta e da procura - são as leis dos mercadores, assim como a lei da selva é a lei do leão”, mas sabemos também que os possíveis candidatos à subvenção federal (estadual ou municipal) são exatamente os que aceitaram as leis do mercado e que deixaram de fazer verdadeiramente arte. Estão a defender não a arte, mas, sim, um estilo de vida, seus apartamentos ou mansões, seus carros novos, sua classe social. Farinha pouca, meu pirão primeiro.
Se a “função do Estado, no campo da arte e da cultura, é precisamente o de se contrapor às leis dos mercadores e favorecer o florescimento de todas as formas culturais, independentemente da sua cotação na Bolsa” como afirma (com muito senso de oportunidade) o Sr. Boal, o que este atual governo está fazendo é evitar um desperdício, pois o que existia, até então, não cumpria estas premissas. Sabemos, nestes anos, qual foi o tipo de cultura que o Estado apoiou e fez florescer. Seria melhor que permanecesse omisso. O que sempre existiu foi um balcão onde determinados “artistas” e “produtores culturais” se serviram à tripa forra. Onde e quando, no Brasil, desde Cabral e suas caravelas, Caminha, Henrique Soares e degredados, o Estado favoreceu o florescimento de formas culturais realmente populares?
Coincidentemente, os dois casos exemplares citados por Boal, Mestre Vitalino e Van Gogh, representam o paradigma do artista que, nunca subsidiados, fizeram arte com inteireza. A gritaria da classe artística não passa pelo apoio a artistas ou concepções artísticas de Mestre Vitalino. O dinheiro pode fazer a existência de determinada pessoa mais fácil materialmente, mas isso não tem influência na arte, no ato genuíno de criação. O mais das vezes, quando interfere é de forma nociva, degradante. Por que tornar fácil a vida do artista em particular? Por que não facilitar (dignificar) a vida de João, pedreiro e esfomeado? Ou a de José, desempregado e abandonado em seus sonhos? Ou a de Maria, mãe solteira, penca de filhos e operária? Ou a de Antônio, 11 anos a se prostituir na Central ou no coração do mundo, em troca de pão ou de droga? Por que tornar mais fácil a vida material do artista em particular? Qual a justificativa? Pois é: semideuses...
É certo que vivemos um governo de simulacros e que o país está sendo “collorido” por desmandos reconhecidamente histéricos. Essa (falta de) política cultural, a exemplo de tantas outras, não atende aos interesses da nação. Mas não estamos discutindo essas ideias, pois a “classe artística” não está colocando as questões com sinceridade e mesmo honestidade.
O nó reside no fato de que essa “classe artística” quer servir a dois senhores e roer a banda sã dos dois lados. A banda podre fica para a sociedade, como no pacto de anormais.

Milton canta que “todo artista tem que ir aonde o povo está”, mas o que mais temos assistido nesta realidade é o previsto e preconizado pelo Belchior onde o exército de ídolos “está em casa guardado por Deus contando o vil metal”, pois banalizou-se mercantilmente “artista” ir aonde a grana está. Nessa toada, irmão, perdemos não só o pudor, mas o bonde da história.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Lula: um cadáver anunciado

Desde a explosão da Lava Jato que o Lula é alvo mais que preferencial das investigações, não por mera questão de seletividade, mas porque salta aos olhos que os indícios o apontam como chefe da maior e mais diferenciada quadrilha que se tem notícia no mundo moderno. No decorrer do tempo, indícios robustos e provas materiais confirmam o que a lógica indica: não seria possível o funcionamento de uma quadrilha dentro do governo, com tal poder de intervenção deletéria, sem a anuência e mesmo participação direta do presidente da República. Claro e evidente que tal raciocínio pode ser estendido à sua sucessora na presidência, Dilma Roussef.
O moderno conceito de democracia ambiciona a busca da igualdade entre os homens e a cidadania se resguarda através de leis que norteiam este desiderato generoso. De formas mais ou menos parecidas, as nações que se pretendem democráticas entendem o disposto nos dispositivos legais como incontestáveis e, portanto, não passíveis de subversão, sob pena de antidemocracia.
Posto que as decisões legais estabelecem uma ordem irrecorrível, se faz necessário que tais decisões sejam portadores de inúmeros dispositivos de prudência, que garantam o mais abrangente direito de defesa. Tal entendimento necessário tem como calcanhar de Aquiles, exatamente a sua contraparte, qual seja, o infrator das leis é o mesmo que delas se vale na tentativa de encobrir, manipular ou safar-se das penas a que se sujeitou por força do próprio delinquir. O mesmo ocorre na política, quando um partido político usa a democracia para alcançar o poder, dele abusa e, uma vez questionado perante as leis, passa a usar a mesma democracia que conspurcou. Isto estabelece uma flagrante relação assimétrica no uso e no abuso das regras democráticas onde as vítimas são submetidas ao logre e mesmo ao escárnio de manipulações grosseiras, apesar de constantes no receituário democrático. Grosso modo é como combater ditaduras com as regras tolerantes e prudentes da democracia. Claro e evidente que tal equação sempre dará “vantagens”, mesmo privilégios, aos infratores das regras estabelecidas para todos.
Talvez isso explique a atual realidade que se desenvolve diante dos nossos olhos e que deixa na sociedade um travo de inconformismo e mesmo ininteligibilidade. Como explicar ao cidadão (que se vale do senso comum) tantas incongruências que o levam a descrer das instituições e das leis que o submetem tão rigidamente? Do ponto de vista do cidadão, como podem Lula, Dilma e tantos expoentes do partido no poder ainda estar gozando de privilégios, comandando o Estado e manipulando o poder em benefício próprio ao invés de encarcerados?
A verdade que salta aos olhos é que o Partido dos Trabalhadores, após chegar ao poder, traçou planos que trafegaram pela antidemocracia ou, numa afirmativa mais direta, pelo crime comum. Os indícios e provas já em poder da justiça, não deixam dúvidas de que cedo ou tarde muitos destes sujeitos políticos, ainda com importantes cargos nas decisões nacionais, serão condenados e cumprirão sentenças pesadas nas penitenciárias.
O cenário que se descortina é que os expoentes do PT fizeram uma aposta na impunidade e urdiram e executaram um plano de extrema ousadia que se consubstanciou no total aparelhamento do Estado, não apenas para a sua manutenção, mas que se estendeu ao saque continuado e indiscriminado da coisa pública. Já no chamado julgamento do mensalão, apesar da brandura das penas aplicadas, após marchas e contramarchas formais, pelo STF, ficou consignado que altos membros do partido ora no poder se enquadrilharam nas fímbrias do governo e, fato inusitado, pela primeira vez na nossa história o povo passou a conhecer os nomes dos tesoureiros de agremiações partidárias. Claro ficava que se tratava de uma forma de corrupção diferenciada daquela já nossa conhecida íntima, de extensa convivência ao longo da nossa história da infâmia política. Em verdade, o mensalão tinha indícios e provas da participação do presidente Lula, mas tais foram convenientemente relegadas, com o beneplácito de ministros do STF devidamente comprometidos com o arranjo político espúrio que contaminou horizontal e verticalmente os processos de escolhas em detrimento da sociedade. Neste mesmo processo que concedeu impunidade ao presidente Lula, foi de fundamental importância a postura de esperteza burra da oposição que, em transe de maquiavelismo estúrdio, avaliou que a melhor estratégia seria deixar o adversário político esvair sua credibilidade moribunda até a chegada das eleições e lá vencê-lo com pompa e circunstâncias. As circunstâncias não contribuíram e a pompa se apresentou num Lula travestido de emérito negociador e dono de cabedal eleitoral imbatível. Tal mito se robusteceu quando, ao final do seu segundo mandato, conseguiu eleger o maior poste político que se tem notícia em eleições formalmente democráticas em todo o mundo.
É nesta quadra que surgem as perguntas que insistem em se fazer imprescindíveis, mas que não são verbalizadas: por que Lula escolheu a mais despreparada e medíocre figura entre as tantas opções do seu partido? Por que a escolha recaiu sobre uma candidatura que era e manos viável naquela circunstância? Por que o Lula fez a pior escolha, colocando em risco (calculado) a eleição? Evidentemente que não podemos encontrar respostas a estas indagações na estratégia puramente eleitoral, o que nos obriga a lançar as vistas para outras possibilidades, sendo que a mais plausível seja a participação efetiva e indiscutível da Dilma na quadrilha de Estado. Desta forma a escolha ganha um sentido lógico, pois, uma vez eleita, a presidente garantiria a continuidade e mesmo ampliação do projeto criminoso.
O enriquecimento dos filhos do Lula e da filha da Dilma, e mesmo a evolução patrimonial de ambos (como de vários morubixabas do PT), são indícios e provas, mas o que mais incita a consolidação de uma convicção é o fato de que ambos estão cercados de suspeitos, investigados, condenados e encarcerados. A nomenklatura petista mais parece um desfile de prontuários policiais, que ostentam fichas criminais quilométricas nas quais o corolário é a corrupção e o roubo da coisa pública. Desconfia-se que a quadrilha petista amealhou fortuna exponencialmente maior do que as verbas que foram usadas nas suas ações de cunho social, capitaneadas pelo programa bolsa-família, de agressivo recorte assistencialista.
É deveras inconcebível para o senso comum, após tanto descalabro, aceitar diariamente o desfilar desenvolto da arrogância destes personagens, cinicamente despejando verborragia barata, quando deveriam estar se escondendo da polícia. Afinal, é a postura lógica que todo marginal mantém quando se sabe descoberto e sem chances num julgamento no qual as provas são mais esmagadoras do que todo o peso maléfico que um bando de sociopatas pode impor a um povo indefeso.
Causa estupor a facilidade com que as versões cínicas e frouxas dos petistas conseguem transformar crimes comuns em atos pretensamente políticos e neste atalho nos deparamos com o uso da democracia para golpear as práticas democráticas. Nos deparamos com cenas em que hordas petistas queimam bandeiras nacionais, caracterizando uma ideologia autoritária (de fulcro fascista), com uma mensagem literal de sedição, onde os brasileiros em sua totalidade são petistas e os que não forem são os outros, os inimigos. Instalam o nós contra eles de forma antidemocrática, mas recorrem oportunisticamente a todas as garantias legais que o sistema legal oferece. Pelo avesso, o ideário petista revigora ao ame-o ou deixe-o do regime militar que tanto diziam combater.

Muito em breve veremos o escancarar dos incontáveis crimes do Lula, o seu julgamento e sua condenação. O que ainda não sabemos é como se dará a transformação da realidade; como crimes comuns serão travestidos de políticas para os pobres, mesmo que o dinheiro esteja em contas no exterior e em nome individual cujo titular ostenta o sobrenome mais humilde, o Silva, que é de todos os brasileiros.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

O aparelhamento dos movimentos sociais e dos sindicatos

Afinal, o que é um Movimento Social? É a reunião de cidadãos em torno de determinada demanda coletiva Desta forma toda ação de um movimento social se dá em torno de determinados objetivos que lhe são próprios e os quais defendem. É lícito afirmar que um movimento que luta em prol da Reforma Agrária é genuinamente social, na medida em que tal demanda no Brasil é histórica. Entretanto este mesmo movimento se atrelar a um partido e ao governo deste partido o descaracteriza enquanto Movimento Social, pois que ao partidarizar seus objetivos, deixa de ser uma luta social, com caráter universal e passa a ser “parte” (de partido) da sociedade.
No caso do MST (entre outros), fica patente ser um movimento que atende aos interesses do Partido dos Trabalhadores e não dos militantes em busca de terras. Em seus quadros (principalmente de liderança) estão encasteladas pessoas que não necessitam de terras, muitas das quais, em todas as suas existências, só tiveram o privilégio de pisar no asfalto e em tapetes palacianos. São lideranças profissionais totalmente submetidas ao governo e ao seu partido em troca de verbas federais liberadas por este mesmo governo.
Pela lógica estruturada pelo MST, todos os seus integrantes são necessariamente petistas e apenas o Partido dos Trabalhadores será capaz de efetuar uma Reforma Agrária no país. Evidentemente que esta postura é gritantemente antidemocrática e falaciosa, pois, no estado democrático é lícito que todos os partidos legalmente constituídos almejem o poder através das urnas. Cabe aos movimentos sociais demandar suas necessidades aos governantes que, necessariamente não pertencem ao partido de sua predileção.
A forma como o MST se enquadra na presente realidade, representa uma excrescência e mesmo um desafio às leis constituídas e, de forma velada, tem auferido do governo a garantia impunidade nas suas atuações ilegais. Por seu lado, o governo se desvia de suas obrigações gerais para com a sociedade permitindo a instabilidade nas relações no campo que redundam em violências de parte a parte, ao arrepio das leis vigentes.
O mesmo pode-se afirmar em relação à CUT, que se declara abertamente petista. Num cenário de desemprego galopante, não se registrou nenhum protesto contra o governo, mas sim, ameaças de greve e lutas mais acirradas se acaso a presidente for afastada, mesmo que consoante a Constituição do país.
Tais flagrantes e confessados aparelhamentos destes movimentos e sindicatos representam a antidemocracia de coletivos sociais que subservem o governo como se este não fosse transitório. Assim como as instituições do patronato jamais se confessaram psdebistas, sindicatos e movimentos sociais não poderiam virar subsidiários de um partido, pois a luta por direitos determinados deve se dar dentro do campo democrático, esteja este ou aquele partido no poder.

Desta forma, ao financiar com o dinheiro público instituições declaradamente partidárias, o governo pratica uma burla à democracia, qual seja, usar as verbas públicas (de todos) em seu proveito único, como se partindo do princípio absurdo de que toda a sociedade é petista e que no PT votará até a consumação dos tempos. Mais autoritário que isso, apenas cuspir na cara de quem discorda.