UM SOUZA NADA
PRUDENTE
Marcelo
Cavalcante
São tantas as
mazelas no país que construímos um estoque inesgotável de malfeitos e
malsinados. Tudo no lombo do povão.
O caso da vez
nos foi apresentado pelo programa Fantástico, que resolveu escarafunchar a
questão dos imóveis funcionais. Ficamos sabendo que ex-funcionários públicos
continuam, por anos a fio, usando as residências públicas após deixarem o
serviço público.
Concordo que
é mais uma esculhambação made in Brazil.
O diacho
dessa história, o que me chamou mais a atenção, foi a frase lapidar, digna de
Alice no País das Maravilhas, proferida pelo desembargador federal Souza
Prudente que afirmou “Um processo como
este, em que alguém fica vários anos abusando de um bem imóvel da União, enfim,
pagando uma ninharia, uma taxa irrisória por ocupar um próprio nacional, é um
processo injusto. Já pelo tempo, pela demora em sua solução, ele se torna
injusto”.
Aparentemente
a autoridade pátria afirmou o óbvio, mas só aparentemente. Em verdade, o que o
desembargador fez foi contrariar o seu sobrenome, ao enviesar por uma senda do
discurso ideológico, no qual os fatos são a-históricos. Neste caso, o nosso
valente defensor do bem público (os apartamentos funcionais), em que pese a sua
correção no proceder, entende o problema como se o único a atormentar a vida
brasilis. Aparta a questão da justiça da sociedade em geral.
Contextualizando
a afirmação do senhor desembargador dentro da realidade do país, chegamos à
conclusão de que quase todos os processos existentes no país são injustos,
pois, em sua esmagadora maioria, são extremamente demorados.
Será que o
eminente Souza Prudente desconhece a realidade do nosso Judiciário? Será que
ele não tem ciência de que, por exemplo, no caso dos precatórios, por ações do
poder público e pressão de interesses escusos, o pagamento de ações já
transitadas em julgado foi jogado para as calendas?
Pois é: no
Brasil, o discurso da moralidade é fatiado e só faz eco aonde o calo aperta.
Dessa forma, o que serve para a demora judicial no problema (pontual) dos apartamentos
funcionais, não serve para o restante dos demais processos. Isso deixa a
impressão de que, se resolvermos esse imbróglio residencial da corte
brasiliense, o país entra nos eixos e rumaremos céleres ao primeiro mundo.
Acordem
Alices!
Fica difícil não ser revoltar ao ler os jornais e assistir aos noticiários, que, ou nos dão um verdadeiro banho de sangue, ou nos sufocam com o cheiro de podre que emanam da imensa pocilga em que se transformaram a capital da república, as sedes dos governos estaduais e municipais, as assembleias legislativas, e por aí afora). Meu finado pai dizia que, numa empresa, a economia começa a ser feita com o corte do cafezinho, e o fato abordado na matéria pode até ser de importância menor diante dos bilhões roubados da maior empresa tupiniquim (talvez por isso a companheirada seja tão avessa a privatizações), mas para acabar com a locupletação e restaurar o império da moralidade é preciso começar por algum lugar.
ResponderExcluirParabéns pela escolha do assunto e pela abordagem lúcida a ele conferida. Se calhar, confira minhas postagens sobre tecnologia em http://www.link.flog.br/fernando-melis ou acesse minha humilde comunidade (http://informatica.link.flog.br/).