quarta-feira, 5 de março de 2014

SEDUZ

SEDUZ

marcelo cavalcante
césar ceará

ver no céu
como se cria o azul
ter no eu
um canto, um eterno blues
então, de tão
frio o rumo sul
vão, em vão,
em vôos cegos,
vagos nus.
nas voltas da vida / vivi
provei do amargo fel
porrei as bebidas que não bebi
trancei os sonhos de rapunzel
dancei as danças do escarcéu
pintei os quadros de dali
e aí,
já que nada seduz
meu amor,

por favor, apague a luz.

PIPAS NO AR

pipas no ar
marcelo cavalcante
césar ceará

vai, companheiro de vida, vai
leva a certeza tão clara
de quem tão bem brinca e cai
no frescor dessa água,
no ardor da corrida
de quem busca pipas no ar
deixa a saudade no tempo
criando nuvens ensinadas
quase nada ao vento
tendo tudo no nada
como voz de alento
pra nos celebrar

paz, nos ensina a calma da paz
que desaprendo na luta
e não desdobra filho em pai
nem amansa a morte bruta
no sabor da partida
de quem busca pipas no ar
reza uma estrofe linda
de companhia breve
de melodia finda
de quebranto leve
nas dobras que ainda
vêm nos relembrar

vai, companheiro de vida em paz

vai, nas pipas da paz

CANTO DAS GENTES










(marcelo cavalcante & mano ferreira)

a noite começa,
eu vou trabalhar
o canto das gentes,
nos bares cantar.
nos tantos lugares
toca o coração,
pedaços de amores,
restos de paixão.

eu vejo as pessoas
na ânsia de amar,
nos prantos ausentes
mascaram o luar,
esboçam cantares,
bebem solidão,
tira-gosto de dores,
sonegam paixão.

a noite termina,
encerro o cantar
e a alegria aparente
vai recomeçar
nos mesmos lugares,
no meu violão,
na bebida, nos bares

do meu coração.

etc & tal

etc & tal
marcelo cavalcante / césar ceará

como num sonho, / estranho sonho,
eu me vi só
sem paradeiro / em solo estrangeiro
perdido em mim / terra e capim
tudo tão ruim / enterro e fim
como um espelho / reflexo e medo
eu me vi só
sem sexo ou alma / deserto e calma
encontro em mim / restos de cauim
o não e o sim / despertos em mim

vi bebedeiras em funeral
o valor vencido, impessoal
tanta doideira em tribunal
bebi a raiva do temporal
atravessei o que é normal
um açucareiro de fel e sal

falei em defesa do pantanal
meu amor, perdi o luar
numa vereda marginal
tantas penas pra pagar
cansei do cansaço desigual
de quem morre em vida pra sonhar

vi bagaceiras em catedral
o amor vendido sensacional
tanta besteira no seu jornal
bebi a raiva do temporal
atravessei o que é normal

seu travesseiro de mel e mal

COMO EMBALAR O SONHO

COMO EMBALAR O SONHO

Marcelo Cavalcante
César Ceará

como embalar o sonho
como ler e ter encanto
se o dia se faz medonho
na noite de tanto espanto?
todo o meu encantamento
se perde nesse imaginar
dia claro, firmamento
noite, breu. cadê luar?
como fazer a canção de amor
sem falar de dor?
eu sem você no refrão, meu amor,
pra rimar com amor
tanto querer sem razão pra sonhar
com esse não ter ou que ter
que querer-te.
resolver a questão decifrar
conhecer, não saber / imaginar-te / arte

como escrever a vida
se o falar se cala
se a boca beija, enseja
e a saudade nos embala?
todo o meu alumbramento
se acha neste caminhar
poemas, rimas, sentimentos
lendas, sinas de encontrar
como não ver os plurais
a vida e seus sinais
gênios, gnomos, feitiços
guizos, geniais?
lento prazer, senão singular
falta chão, falta ar pra viver-te
tento não ser o irmão a jogar
com a ilusão de um viver semi-arte
parte


voz: césar ceará / violões e bandolim: alexandre guichard