O presidente
do Supremo Tribunal Federal, além de ocupar o cargo de tamanha relevância na
República é, também, o quarto personagem na sucessão presidencial. Desta forma,
apesar de ocupar um cargo técnico (por indicação política), tem funções
políticas e responsabilidades que vão além da toga. Neste momento, tal cargo é ocupado
pelo Ministro Ricardo Lawandoski que, consoante a ladainha pra engrupir os otários,
é portador de profundo saber jurídico e ilibada conduta moral. Ocorre que, mal
assumiu, o ministro ficará presidente da República, por conta da viagem da
Dilma, do Temer, do Henrique Alves e do Calheiros. Esses políticos da linha
sucessória evitam assumir a presidência por questões legais, as leis
eleitorais.
Vivemos num
país onde a maioria esmagadora da população recebe salário mínimo e que milhões
de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza. Vivemos num país onde, apesar dos dados
oficiais, a favelização é crescente, assim como a presença de pessoas vivendo
nas ruas e se alimentado de restos tem aumentado exponencialmente. É neste
cenário de miséria que o Ministro-Presidente do Supremo Tribunal Federal, Lewandowski
entende necessário o aumento dos salários dos servidores (inclusive o dele) por
ser medida crucial para devolver a "autoestima" aos magistrados.
Creio que
a sociedade em geral não tinha conhecimento de que os nossos magistrados estavam
com a autoestima batendo biela e seria muito conveniente o ministro explicitar
para a patuleia infame as razões do desânimo dos nossos magistrados. Decerto
que não é por culpa da sociedade que se mantém cordeirinha e não ousa
desobedecer ou discutir o transitado em julgado, pois é de conhecimento geral
que quem costuma fazer tais sortilégios é o próprio Estado, como por anos e
anos assim procedeu, não pagando os precatórios (transitados em julgado).
Creio que o
ministro-presidente deveria ser mais explícito nesta sua generalização inconsequente
e acredito piamente que ele deveria ser mais sincero no seu apreço canino a
essa sua desabrida manifestação corporativa. Ao condicionar autoestima a
salários cada vez maiores, o ministro afirma que a autoestima do povo em geral
está em petição de miséria (literalmente).
A impressão
que guardei do episódio é a de que o ministro comunga daquela ideia burguesa na
qual as madames costumam afastar o tédio (dar um upgrade na autoestima) fazendo
compras compulsivas. Da mesma forma, o entender do Lewwandovski é que,
turbinando os salários dos ministros, estes se sentiriam menos frustrados por
viverem nababescamente, apesar de não atenderem às reais necessidades da nação
a que deveriam servir.
Não mais nos
estarrece o fato de homens públicos fazerem declarações tão pueris e de vasta
insensibilidade, pois se os nossos magistrados estão com baixoestima em função
de salários de 29,4 mil (mais as “ajudas” e mordomias outras), o que dizer da
autoestima do trabalhador cujo salário mínimo é de 724,00?
O futuro
presidente (interino), deveria usar de sinceridade ou mesmo ter mais pudor e
restringir a afirmação cínica, à sua pessoa, pois acredito sinceramente que
muitos desembargadores não estão com a autoestima em baixa, mas que, em função
deste aumento arbitrário se sentirão constrangidos e talvez seja a causa de
baixoestima de alguns.
Marcelo Cavalcante