sábado, 26 de março de 2016

A corrupção exacerbada

Lembro do FHC: “esqueçam o que escrevi”. Acho que ele sacou que sem compor com a corrupção não governava. Muito esperto fez um governo neoliberal, discreto ideologicamente (não saiu propagando o que não era, não disse que era um governo de esquerda, como o PT fez, sem ser). A contribuição do FHC foi combater a inflação (coisa que até me surpreendeu, após tantos planos fracassados) e atrelar os gastos públicos à Lei de Responsabilidade Fiscal. No mais a corrupção permaneceu intocável, num nível “tolerável”.
O Lula e o PT passaram anos demonstrando ser um partido diferente, que tinha uma militância generosa, pois que ideológica e cujo maior trunfo era o discurso de combate à corrupção. Martelaram esse mantra por anos a fio. Chegando ao poder o Lula tinha cacife para avançar nos controles sobre a corrupção, mas o que ele desejava era participar do jogo burguês (tinha aspirações de consumo burguês), demonstrar que era esperto (e é). Com a experiência sindical, descortinou os caminhos da grana pública e foi implantando um plano de aparelhar o Estado.
Lembro que logo após o Lula assumir houve o racha com os esquerdistas sinceros (Heloísa, Genro, Babá, e alguns intelectuais) porque ficou claro que não existia mais compromisso com as causas populares. Se estes sacaram a tramoia, muitos outros também, só que permaneceram no PT, pois as possibilidades de fruir dinheiro e poder se descortinavam ilimitadas. A oposição não percebeu isso? São idiotas? Só um grupinho de iluminados percebeu? Ocorre que para os caciques políticos, ser governo ou oposição (sob o aspecto da corrupção) não faz muita diferença, desde que algumas regras sejam obedecidas (rouba, mas deixa roubar é a regra de ouro). Lembro perfeitamente (ainda no primeiro governo Lula) das reclamações de que os petistas eram gulosos e estavam inflacionando a tabela da propina...
E tudo seguiu na santa paz até que... Uma certeza alarmante tomou conta da oposição e dos aliados do governo (não petistas, principalmente o PMDB): estes malucos vieram construindo uma estrutura para a captura do Estado com tal precisão que até o final do governo Dilma (com a possibilidade real de mais governo Lula), eles não mais necessitam de aliados ou da oposição. Serão autossuficientes em corrupção.
Lula e o PT aprofundaram a corrupção a níveis exacerbados (e aí está o calcanhar de Aquiles, o Moro, e o STF, mesmo comprado), com a ousadia só encontrada nos irresponsáveis, nos ensandecidos. Não pode! Ou nos locupletamos todos ou restaure-se a moralidade (Sérgio Porto). E aí surge Pasadena. Estava muito escancarado! Mas a "certeza" da impunidade era tão evidente que fizeram daquela forma desastrada e esqueceram que existia MUITO dinheiro privado na Petrobras. De rico não se rouba impunemente (rouba dinheiro da merenda, da saúde, da educação... dinheiro de ninguém). Como é que um paiseco de merda vai roubar milhões de fundos de pensão dos EUA, vai roubar países como Noruega e Suécia? Roubar da Bolsa internacional? Endoidou? Isso atrapalha o desenvolvimento do capital internacional e ele, nesse mundo dominado, pode tudo e é muito cioso de suas regras pétreas, sendo a principal a expansão do sistema.
Então, até aí, o PT (já uma quadrilha organizada dentro do Estado e bem estruturada) tinha a desconfiança da oposição e estava na mira do capital internacional. Eis que surge um juiz de primeira instância (especialista nos crimes de colarinho branco e estudioso/admirador da Operação Mãos Limpas) extremamente sagaz, corajoso e competente, que se defronta com a ponta de um iceberg que, por força do volume de infrações penais, rapidamente se revela uma montanha inimaginável e sem fim de crimes superpostos e todos apontando para uma só direção: os governos petistas (dá para notar que é uma corrupção diferenciada).
A força do Moro está na fraqueza do PT, por conta dos inúmeros crimes que foram cometidos; quanto mais crimes aparecem, mais fortalecido fica o juiz. Observe-se que o Moro não é o xerife anticorrupção e tem sua atuação circunscrita a determinados limites. Muita corrupção não está sob a jurisdição dele, o que seria encargo humanamente impossível. Acredito na honestidade da força-tarefa pelo fato de que a oposição não se assanhou nem fez alarde. FHC e outros, até bem pouco tempo, davam declarações sobre a honestidade pessoal de Lula e da Dilma. Só mais recentemente, quando constataram a força e as proporções inesperadas que a Lava Jato tomou (ainda tem muitos reticentes) e a adesão popular, é que embarcaram no movimento, calcularam oportunisticamente que dava pé.
O panorama imediato que se apresenta é o fim agônico e patético do governo Dilma, de um refluxo eleitoral do PT e da desmoralização (e cadeia) do Lula. Muito provavelmente o Temer assumirá até o fim do mandato (no caso da saída da Dilma, o TSE perde o ímpeto, “para evitar mais traumas” = mentira) e fará um governo austero, contido, evitando ao máximo os deslizes e sacolejos de uma sociedade arisca.
Não sei se o plano do PSDB/PMDB será exitoso, pois os políticos profissionais estão desmoralizados e nestas ocasiões o povo tende a optar por uma cara nova, um fenômeno, um messias. Existe ainda a possibilidade da Marina, em seu estilo dissimulado e errático...

De toda sorte, existe a possibilidade que foi descortinada por todos estes acontecimentos precipitados, qual seja, a perseverança do povo em protagonizar resistências aos abusos, à corrupção, à impunidade e aos privilégios. Além de um desejo compartilhado por milhões de pessoas, é uma oportunidade real. Veremos se a perversidade vai vencer, mais uma vez, as esperanças de um mundo mais decente.


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