Lembro do FHC: “esqueçam o
que escrevi”. Acho que ele sacou que sem compor com a corrupção não governava.
Muito esperto fez um governo neoliberal, discreto ideologicamente (não saiu
propagando o que não era, não disse que era um governo de esquerda, como o PT
fez, sem ser). A contribuição do FHC foi combater a inflação (coisa que até me
surpreendeu, após tantos planos fracassados) e atrelar os gastos públicos à Lei
de Responsabilidade Fiscal. No mais a corrupção permaneceu intocável, num nível
“tolerável”.
O Lula e o PT passaram
anos demonstrando ser um partido diferente, que tinha uma militância generosa,
pois que ideológica e cujo maior trunfo era o discurso de combate à corrupção.
Martelaram esse mantra por anos a fio. Chegando ao poder o Lula tinha cacife
para avançar nos controles sobre a corrupção, mas o que ele desejava era
participar do jogo burguês (tinha aspirações de consumo burguês), demonstrar
que era esperto (e é). Com a experiência sindical, descortinou os caminhos da
grana pública e foi implantando um plano de aparelhar o Estado.
Lembro que logo após o
Lula assumir houve o racha com os esquerdistas sinceros (Heloísa, Genro, Babá,
e alguns intelectuais) porque ficou claro que não existia mais compromisso com
as causas populares. Se estes sacaram a tramoia, muitos outros também, só que
permaneceram no PT, pois as possibilidades de fruir dinheiro e poder se
descortinavam ilimitadas. A oposição não percebeu isso? São idiotas? Só um
grupinho de iluminados percebeu? Ocorre que para os caciques políticos, ser
governo ou oposição (sob o aspecto da corrupção) não faz muita diferença, desde
que algumas regras sejam obedecidas (rouba, mas deixa roubar é a regra de
ouro). Lembro perfeitamente (ainda no primeiro governo Lula) das reclamações de
que os petistas eram gulosos e estavam inflacionando a tabela da propina...
E tudo seguiu na santa paz
até que... Uma certeza alarmante tomou conta da oposição e dos aliados do
governo (não petistas, principalmente o PMDB): estes malucos vieram construindo
uma estrutura para a captura do Estado com tal precisão que até o final do
governo Dilma (com a possibilidade real de mais governo Lula), eles não mais
necessitam de aliados ou da oposição. Serão autossuficientes em corrupção.
Lula e o PT aprofundaram a
corrupção a níveis exacerbados (e aí está o calcanhar de Aquiles, o Moro, e o
STF, mesmo comprado), com a ousadia só encontrada nos irresponsáveis, nos
ensandecidos. Não pode! Ou nos locupletamos todos ou restaure-se a moralidade
(Sérgio Porto). E aí surge Pasadena. Estava muito escancarado! Mas a
"certeza" da impunidade era tão evidente que fizeram daquela forma
desastrada e esqueceram que existia MUITO dinheiro privado na Petrobras. De
rico não se rouba impunemente (rouba dinheiro da merenda, da saúde, da
educação... dinheiro de ninguém). Como é que um paiseco de merda vai roubar
milhões de fundos de pensão dos EUA, vai roubar países como Noruega e Suécia?
Roubar da Bolsa internacional? Endoidou? Isso atrapalha o desenvolvimento do
capital internacional e ele, nesse mundo dominado, pode tudo e é muito cioso de
suas regras pétreas, sendo a principal a expansão do sistema.
Então, até aí, o PT (já
uma quadrilha organizada dentro do Estado e bem estruturada) tinha a desconfiança
da oposição e estava na mira do capital internacional. Eis que surge um juiz de
primeira instância (especialista nos crimes de colarinho branco e
estudioso/admirador da Operação Mãos Limpas) extremamente sagaz, corajoso e
competente, que se defronta com a ponta de um iceberg que, por força do volume
de infrações penais, rapidamente se revela uma montanha inimaginável e sem fim
de crimes superpostos e todos apontando para uma só direção: os governos
petistas (dá para notar que é uma corrupção diferenciada).
A força do Moro está na
fraqueza do PT, por conta dos inúmeros crimes que foram cometidos; quanto mais
crimes aparecem, mais fortalecido fica o juiz. Observe-se que o Moro não é o
xerife anticorrupção e tem sua atuação circunscrita a determinados limites.
Muita corrupção não está sob a jurisdição dele, o que seria encargo humanamente
impossível. Acredito na honestidade da força-tarefa pelo fato de que a oposição
não se assanhou nem fez alarde. FHC e outros, até bem pouco tempo, davam
declarações sobre a honestidade pessoal de Lula e da Dilma. Só mais
recentemente, quando constataram a força e as proporções inesperadas que a Lava
Jato tomou (ainda tem muitos reticentes) e a adesão popular, é que embarcaram
no movimento, calcularam oportunisticamente que dava pé.
O panorama imediato que se
apresenta é o fim agônico e patético do governo Dilma, de um refluxo eleitoral
do PT e da desmoralização (e cadeia) do Lula. Muito provavelmente o Temer
assumirá até o fim do mandato (no caso da saída da Dilma, o TSE perde o ímpeto,
“para evitar mais traumas” = mentira) e fará um governo austero, contido,
evitando ao máximo os deslizes e sacolejos de uma sociedade arisca.
Não sei se o plano do
PSDB/PMDB será exitoso, pois os políticos profissionais estão desmoralizados e
nestas ocasiões o povo tende a optar por uma cara nova, um fenômeno, um
messias. Existe ainda a possibilidade da Marina, em seu estilo dissimulado e
errático...
De toda sorte, existe a
possibilidade que foi descortinada por todos estes acontecimentos precipitados,
qual seja, a perseverança do povo em protagonizar resistências aos abusos, à
corrupção, à impunidade e aos privilégios. Além de um desejo compartilhado por
milhões de pessoas, é uma oportunidade real. Veremos se a perversidade vai
vencer, mais uma vez, as esperanças de um mundo mais decente.
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