A sucessão de
escândalos que ocorrem neste ano de 2015, parece que nada mais é do que a
continuidade de tantos outros que antecederam e de novos que decerto sucederão.
Não comungo desta ideia, pois acredito que as ocorrências atuais atingiram o
que os gregos chamavam de desmesura e, sob outra perspectiva, encaminham o país
para o que Durkheim conceituou de anomia.
Assim como o
rompimento da barragem, em Mariana, inundou o meio ambiente com rejeitos que
provocarão danos incalculáveis ao longo do tempo, a atuação das elites está
sufocando a sociedade como um todo com o fedor corrosivo do desrespeito mínimo
à cidadania e as regras primárias recomendadas à civilidade. Desta forma, a
barragem ética se rompeu de forma insanável e inundou a sociedade com ações e
intenções manifestamente criminosas que resultarão em consequências
irreparáveis (também ao longo do tempo) que ainda não podem ser devidamente
equacionadas.
Esses danos à
sociedade brasileira se apresentam em dois planos distintos: o material e o
espiritual.
É inegável que, na
atualidade, vivemos tempos em que as ações dos homens públicos (todos aqueles
que de alguma forma detêm o poder público, do presidente a um simples oficial
de justiça) atuam de forma desembaraçada, deixando patentes seus crimes contra
a cidadania de forma mais clara que fratura exposta. Tal exposição pública de
sucessivos desmandos tem sérias consequências danosas à sociedade em geral,
pois que redundam em dificuldades materiais aguçadas (inflação, desemprego,
recessão, etc.) e revoluteiam no cevar de um sentimento de baixa estima
cominado com uma revolta latente, não direcionada, que redunda em violência
represada que eclode de inopinado, na maioria das vezes sem ligação com o fato
gerador.
Provas nos trazem as
certezas e os indícios nos encaminham para a desconfiança. No que tange ao
cometimento de crimes contra a nação, o Brasil de 2015 transformou-se num campo
fértil em provas sólidas que estão conduzindo figuras olimpianas à cadeia. É
alentador o fato de que personagens poderosas (político-econômico) hoje se
encontram encarceradas, cumprindo-se, pela primeira vez na nossa história, de
forma (quase) consistente, o axioma basilar de que a justiça é feita para
(quase) todos. Tal fato me leva à conclusão de que vivemos um momento único,
uma quadra crítica, na qual estão sendo decididos os rumos do país na questão
dos costumes. Decide-se agora se seremos um país que respeita a cidadania ou se
vai enveredar cada vez mais enredado, num aprofundamento de um patrimonialismo
caduco e sem espaço no concerto das nações.
As provas destes
crimes contra o povo resultam em processos que serão julgados por tribunais
(com ou sem foro privilegiado) e resta-nos a esperança (deveríamos ter
certeza!) de que sejam julgamentos honestos, que os juízes e desembargadores
agirão consoante a legalidade.
A minha dúvida acima
se justifica quando adentro na questão dos indícios, os tais que geram
desconfianças justificadas. O panorama que observamos (impotentes cidadãos) é
de terra arrasada, digno de sentar no meio-fio das nossas desesperanças e
chorar até que a catarse nos mate, seja por impotência, nojo ou tristeza. Assim
como a desconfiança de um policial surge através de indícios, o mesmo ocorre
com a sociedade, acontece comigo. Desta forma passo a expor o meu (sacrossanto,
pois que lógico e justificado) leque de desconfianças sobre os homens públicos
do meu país.
A confiança é fator
fundamental para o crescimento econômico, mas é principalmente a alavanca para
a autoestima individual e social. Como podemos construir uma sociedade
produtiva e feliz (justa) se ancorados à desconfianças generalizadas?
Segundo indícios,
desconfio de que fiscais em geral, policiais e policiais rodoviários recebem
propina para aliviar transgressões que podem resultar em multas.
Segundo indícios,
desconfio de que membros dos Tribunais de Contas (União, Estados e Municípios)
e do CARF negociam sentenças.
Segundo indícios,
desconfio de que juízes e desembargadores negociam sentenças.
Segundo indícios,
desconfio de que o Rodrigo Janot (Procurador Geral da República) atende
precipuamente os interesses do governo e não da República brasileira.
Segundo indícios,
desconfio de que o STF atua precipuamente no sentido de defender os interesses
do governo e não na defesa das leis e da Constituição.
Segundo indícios,
desconfio de que existem desvios de conduta em todos os segmentos do poder
público no Brasil.
Não há como negar que
existem robustos indícios de que o Partido dos Trabalhadores, após anos de
desempenho baseado num discurso de ética na política, após a sua chegada ao
poder, transformou-se num organismo que aparelhou o Estado e montou um esquema
de corrupção institucional, aprofundando o patrimonialismo de forma abissal,
objetivando privilégios partidários e individuais. Talvez acreditando na
miríade de um Reich de dois mil anos e convicto de que eleições são vencidas
com dinheiro, foram ao lugar aonde se concentra o maior montante dele no país,
os cofres públicos e os negócios públicos. Trata-se do lugar economicamente
privilegiado, a Pasárgada dos mega negócios. Ocorre que a montagem de tal
megaestrutura demanda exercício logístico de impressionante e difícil montagem,
só é factível com a participação efetiva de toda a estrutura de poder, agindo
em consonância com os seus objetivos criminosos. E os indícios de tal
arquitetura escorrem pelas notícias e documentos com mais fartura que a lama
que transbordou Mariana e se espraiou por todo um imenso ecossistema. Diante
disso e estribado em diversos indícios, ninguém pode me tirar o direito de
desconfiar que o alto escalão do governo participou, de forma consciente e
ativa, desta empreitada, inclusive o ex-presidente e a atual presidente. O fato
de os ex-tesoureiros do PT estarem na cadeia, é um indício que me leva a
desconfiar da lisura e legitimidade das eleições (não só as majoritárias).
Fatos noticiados pela grande imprensa me levam a desconfiar de uma série
infindável de coisas, tais como: juízes, desembargadores e do próprio Supremo
Tribunal Federal. Da mesma forma, me dão o direito de desconfiar que os
sorteios das loterias da Caixa Econômica são fraudados (imagine uma fraude
direta contra o povo!). Histórias mal contadas, enredos sem sentido, me levam à
desconfiança de que o Bumlai e os filhos do ex-presidente, Luiz Inácio da
Silva, obtiveram vantagens privadas através da coisa pública. Sabemos que na
Petrobras existe um sistema rigoroso de controle que dificulta o simples roubo
de um parafuso e a consecução do negócio com a refinaria de Pasadena me faz
desconfiar que seria inviável sem a atuação da presidência da estatal e do seu
conselho. No limite (segundo indícios) desconfio que o presidente da república,
Luiz Inácio da Silva, tinha conhecimento e mesmo aprovou. Compulsando o
noticiário percebe-se que era um negócio tão grotesco (pelo absurdo de sua
lógica) que não seria possível a alegação de desconhecimento de informações,
pois tais decisões passam por um sistema de controle minucioso (notadamente do
setor jurídico que é fabuloso!). Indícios sobre os pagamentos das palestras do
ex-presidente e a movimentação fabulosa nas contas bancárias de Palocci,
Pimentel e Erenice me fazem desconfiar de lavagem de (muito) dinheiro.
Não obstante
explicações de cunho técnico-jurídico, a sociedade que não tem dúvidas de que o
senador Delcídio do Amaral cometeu crimes graves e não vai entender como o seu julgamento
pode demorar 10 ou 20 anos ou mesmo prescrever. Mais desconfianças...
O mensalão desnudou o
embrião do Petrolão, mas as provas produzidas naquela negociata deixaram
clareza na compra pura e simples de apoio político, por parte do governo. Isso
se traduz na burla da vontade popular através do seu sagrado direito de voto
(que hoje a Dilma Roussef desfralda como valor universal, em defesa do seu
mandato). Recentes reformas ministeriais deixam pegadas de indícios (e mesmo
confissões) de que ministérios e cargos importantes são entregues não à
competência, mas condicionados a determinada quantidade de votos no Congresso
Nacional. Isso me concede o direito de desconfiar de que o governo e o seu
partido usam o Estado para seus interesses particulares e não para a sociedade.
Diante deste panorama
de terra arrasada, contrarrestando tantas mazelas, temos a figura emblemática
do Juiz Sérgio Moro, do qual não tenho nenhum indício que me proporcione
desconfianças. Acredito (necessito acreditar!) que existem outros Moros (em
outros setores da vida pública) que ficam acima das suspeitas, pois que
traçaram para as suas vidas metas baseadas em firmeza de caráter e pactuam
sentimentos de que a existência humana necessita ser justa para que tenha
dignidade. Ainda, conforme os indício, guardo a desconfiança de que este
exército de Moros, apesar dos méritos, é um Brancaleone revisitado, que pode
ser constrangido e inviabilizado pelos cínicos sabujos do poder, de forma
imoral, porém legal.
Acredito que estas
minhas desconfianças (e inúmeras outras) não são descabidas, assim como creio
que são compartilhadas pela maioria da população brasileira e que isto desperta
sentimentos coletivos de revolta, vergonha e impotência. O somatório de tal
herança negativa não nos propicia esperanças de uma vida melhor ou minimamente
ffeliz.
Não trato aqui de
questões político-partidários e muito menos as de cunho ideológico, mesmo porque
os indícios coletados nas diversas mídias me dão conta de uma distorção
(proposital) que está apartando a sociedade em grupos de contra e a favor, mas
que tais posicionamentos não debatem ideias e fatos, apenas vociferam suas
palavras de ordem. Acredito que tal posicionamento é admissível (não benfazejo)
em torcidas de clubes de futebol, mas uma ideia totalmente distorcida quando se
trata do país e do seu futuro.
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