Anos depois recebi uma primeira edição de Sol Rente, um
portentoso romance que enfoca a existência centenária de Pedro Isgorogota e
mapeia um desfocado sertão, posto que observado de uma perspectiva interna,
pessoal e, entretanto, contraditoriamente universal. No passar dos anos vou
recebendo, um a um, os livros dessa assombrosa caminhada sem fim, pois que
circular e infinita. Ao pé do fogo, Todas as sedes, Mandiocara, Desalmo,
Todos os medos, ABC das infâncias... Eis que agora, por fim, pondo um ponto
final, recebo dois livros digitais: Movimentos e Andejares. Para este,
solicita um prefácio e sobre aquele nenhuma palavra. Lacônico ao apresentar uma
versão definitiva do seu primeiro livro, todo revisto e com mais do dobro de
páginas, inconsoante com aquele de 1977, quando da primeira edição.
Dessa forma intermitente e lacônica fui recebendo todos os volumes
deste conjunto de obra. Estranhamente, nunca me enviou seus outros livros
publicados. Não me descortinou as coxias do seu teatro, nem o canto áspero de
sua música ou as rimas dos seus poemas que enfeixam palavras precisas, como se
recortassem com navalhas esta realidade construída sob os pilares da injustiça
e da hipocrisia. Não viajei nos imaginados dos seus contos e novelas e demais
escritos. Não me ensinou o poder da sua medicina, posto que viajante em
variados conhecimentos, mestre engenheiro e doutor em humanidades. Sei apenas
notícias vagas, penumbrosas, desta literatura que apesar de mesma se faz outra.
Que enigma guarda tal história de carochinhas? Qual o tamanho de
uma teimosia que persiste e subsiste, recatada e silenciosa, por toda uma vida?
A realidade de consumo instantâneo me conduz a colher
indícios/certezas de que poucos tomarão conhecimento dessa obra e que menor
ainda será o seu número de leitores. Talvez eu e mais meia dúzia, talvez nem
isso... Presumo que ele, como autor e pessoa arguta, deve ter avaliado esta
realidade (melhor do que eu) e não guarda otimismos ou esperanças sobre o canto
escuro que está reservado a esta sua obra de uma vida inteira. Então, por que
perseverou indiferente às condições de rejeição e indiferença? Por que consumiu
nervos e vísceras para semear uma flor, decerto natimorta, no deserto? Talvez
seja a síndrome da flor do mandacaru que, lindíssima, desabrocha ao anoitecer e
murcha com a claridade do dia. Poucos veem... Mas elas sempre estarão lá,
amenizando a sequidão do agreste. Assim, creio que, qual flor que dura apenas
um período noturno, Saga dos Perplexos, ficará eternizada numa miríade
de renasceres, pois, é certo, que as noites chegam sempre após o pôr-do-sol.
FGR
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