Afora
as perversas, as ideologias preconizam fórmulas para as sociedades evoluírem no
sentido de lograr melhor qualidade de vida e harmonia entre os homens. Seja o
capitalismo, capitaneado pela ideia de que o mercado regula as relações
materiais e apazigua as sociais, seja o comunismo no qual o estado seria o
condutor e controlador de todo o processo que, por consequência, desaguaria
numa igualdade entre os seres.
O
traço comum entre as ideologias (políticas, religiosas e filosóficas) é a busca
de uma fórmula para a construção de mundo melhor. A contradição mais flagrante
se desnuda quando verificamos que a busca por um mundo melhor se transmuta numa
luta pelo triunfo e imposição de um método determinado, seja capitalista,
fascista, socialista ou comunista. O efeito de convencimento de tais formas de
pensamento cria raízes profundas numa fé teleológica, mesmo irracional. É como
se a felicidade humana só tivesse algum valor se alcançada através das trilhas
de determinado pensamento consolidado e embrulhado sob um especial e
cabalístico título pomposo.
Minha
convicção é a de que as sociedades, acima das ideologias, necessitam viver com
dignidade, criar um mundo menos áspero para os despossuídos materialmente e
propiciar meios de redimir intelectualmente os bestializados através de uma
inclusão mais fraterna. Nesta equação é indiferente sob qual regime se vive,
desde que se avance na conquista desse desiderato.
Entretanto,
observando a conjuntura de crise que o país atravessa, o que mais ressalta são
as relações de poder, realçadas pela intolerância de uma corrente ideológica
agrupada em torno de um partido que, contraditoriamente, não se perfila
consoante os seus postulados. Mais uma vez aprofundamos a escolha equivocada
optando a forma e descartando o conteúdo. Formalmente o PT se apresenta como um
partido de esquerda, mas na prática consumiu treze anos de poder desenvolvendo
políticas neoliberais embebidas em erráticas ações de cunho assistencialista
que fariam qualquer comunista corar de vergonha. Ao final, e que pese o agudo descontrole
da gestão pública, as esquerdas resistiram a uma mudança que se mostrava razoável,
urgente e inescapável face ao esgotamento do modelo posto em prática. Restava patente
que, com mais dois anos de administração de Dilma Roussef, o país se aprofundaria
num atoleiro que, num mar de desesperanças, o conduziria à anomia. Mas um viés
fundamentalista aflora e prefere o caos comandado pelo ideário da predileção ao
equilíbrio que uma mudança possa proporcionar, ou seja, as únicas melhorias
bem-vindas são as proporcionadas pelo meu método de predileção, as melhorias intentadas
pelos “inimigos” serão alvo do meu boicote e inviabilização.
Provavelmente,
se o vice-presidente a assumir fosse do PT e tivesse o carimbo inconteste (mesmo
que formal) de ser de esquerda, as reações seriam outras. Fosse Lula a substituir
a Dilma, o impeachment deixaria de ser golpe e, muito provavelmente, seria abençoado
por todos estes que hoje vociferam contra as instituições e a Constituição, que
foi batizada de cidadã, mas que também se limitou à forma, pois não foi preenchida
de conteúdos que a tornasse, na prática, num instrumento de justiça social.
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