quinta-feira, 21 de abril de 2016

Ideologia e oportunismo

Há uma necessidade urgente de fazermos uma análise dos ditos tempos de chumbo e uma releitura daquela geração insurgente (da qual fiz parte) com a finalidade de se levantar alguns véus sob os quais se aninham mentiras históricas que se consolidam a cada dia, como verdadeiros abusos da história.
Era um tempo em que as mudanças estruturais eram possíveis, pois a hegemonia mundial não estava definida como observamos na atualidade. Duas grandes correntes ideológicas se contrapunham, se digladiavam seja de forma cruenta seja predominantemente nos incruentos embates de visões diferenciadas e antagônicas de mundo.
O que movia as esquerdas, principalmente os jovens incendiários era um sonho de justiça, um insaciável desejo de mitigar as dores dos mais desvalidos, através do protagonismo do trabalho e o rebaixamento (extinção) do capital, sua lógica desumana e predatória. Marx, decerto, foi um pensador poderoso, mas Jesus Cristo também o foi e nem por isso o mundo se converteu, na prática, aos seus ensinamentos.
Observamos que poucos líderes de esquerda espalhados pelo mundo levaram suas vidas pessoais coerentes com o ideal que professavam, pois fraquejaram diante do apelo às delícias matérias da vida burguesa. Um projeto de mundo que preconizava a busca de igualdade de vida material para todos estaria fadado ao fracasso, se os seus líderes comungassem uma vida cercada de confortos, futilidades e consumo conspícuo. Esta contradição foi o fardo pesado a corroer a consciência revolucionária e a seduzir corações e mentes de lideranças autoritárias e exigentes para com o coletivo, e indolentes e frouxas com elas mesmas.
Acredito que o PT, por circunstâncias históricas, foi o estuário final destas lideranças inorgânicas, cooptadas facilmente pela sedução de uma vida de fausto e consumo que fingiam combater, ou combatiam enquanto um discurso insincero, posto que era o único que herdaram em sentido utilitário. O corolário deste cenário profundamente vergonhoso é reconhecer que se apegaram aos seus currículos passados, já superados e anacrônicos, da pior forma possível, pois que os transformaram em propriedade privada, sendo que esta, em última instância, era o dragão da maldade que diziam combater.

No Brasil, foram poucos os homens que realmente se propuseram a mudar a vida do povo, que empreenderam suas lutas e se mantiveram, a nível pessoal, fiéis e coerentes com os seus ideais. Poucos foram os forjados no aço necessário que os movesse a pagar preço, a enfrentar os sacrifícios naturais e necessários, numa existência espartana, como exige toda liderança carismática que não é nem nunca poderá ser produzida por marqueteiros espertos e suas mágicas vazias. Hoje, estes guerreiros, involucrados em seus sonhos estiolados, repousam em seus túmulos (os vivos e os mortos) de frustrações, mas por verdadeiros, resguardam um recato necessário para a manutenção das suas dignidades e o conforto de terem combatido o bom combate. Nunca se fizeram credores, não mercadejaram seus passados, na busca de recompensas de ouro ou mirra. Em suas trajetórias hieráticas, não se traíram, não enganaram os oprimidos que sempre foram as chamas que os moveram de encontro aos horrores e aos inesperados que a vida preserva aos puros de sentimentos.

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