Há uma necessidade urgente
de fazermos uma análise dos ditos tempos de chumbo e uma releitura daquela
geração insurgente (da qual fiz parte) com a finalidade de se levantar alguns
véus sob os quais se aninham mentiras históricas que se consolidam a cada dia,
como verdadeiros abusos da história.
Era um tempo em que as
mudanças estruturais eram possíveis, pois a hegemonia mundial não estava
definida como observamos na atualidade. Duas grandes correntes ideológicas se
contrapunham, se digladiavam seja de forma cruenta seja predominantemente nos
incruentos embates de visões diferenciadas e antagônicas de mundo.
O que movia as esquerdas,
principalmente os jovens incendiários era um sonho de justiça, um insaciável
desejo de mitigar as dores dos mais desvalidos, através do protagonismo do
trabalho e o rebaixamento (extinção) do capital, sua lógica desumana e
predatória. Marx, decerto, foi um pensador poderoso, mas Jesus Cristo também o
foi e nem por isso o mundo se converteu, na prática, aos seus ensinamentos.
Observamos que poucos
líderes de esquerda espalhados pelo mundo levaram suas vidas pessoais coerentes
com o ideal que professavam, pois fraquejaram diante do apelo às delícias
matérias da vida burguesa. Um projeto de mundo que preconizava a busca de
igualdade de vida material para todos estaria fadado ao fracasso, se os seus
líderes comungassem uma vida cercada de confortos, futilidades e consumo
conspícuo. Esta contradição foi o fardo pesado a corroer a consciência
revolucionária e a seduzir corações e mentes de lideranças autoritárias e
exigentes para com o coletivo, e indolentes e frouxas com elas mesmas.
Acredito que o PT, por
circunstâncias históricas, foi o estuário final destas lideranças inorgânicas,
cooptadas facilmente pela sedução de uma vida de fausto e consumo que fingiam
combater, ou combatiam enquanto um discurso insincero, posto que era o único
que herdaram em sentido utilitário. O corolário deste cenário profundamente
vergonhoso é reconhecer que se apegaram aos seus currículos passados, já superados
e anacrônicos, da pior forma possível, pois que os transformaram em propriedade
privada, sendo que esta, em última instância, era o dragão da maldade que
diziam combater.
No Brasil, foram poucos os
homens que realmente se propuseram a mudar a vida do povo, que empreenderam
suas lutas e se mantiveram, a nível pessoal, fiéis e coerentes com os seus
ideais. Poucos foram os forjados no aço necessário que os movesse a pagar
preço, a enfrentar os sacrifícios naturais e necessários, numa existência
espartana, como exige toda liderança carismática que não é nem nunca poderá ser
produzida por marqueteiros espertos e suas mágicas vazias. Hoje, estes
guerreiros, involucrados em seus sonhos estiolados, repousam em seus túmulos
(os vivos e os mortos) de frustrações, mas por verdadeiros, resguardam um
recato necessário para a manutenção das suas dignidades e o conforto de terem
combatido o bom combate. Nunca se fizeram credores, não mercadejaram seus
passados, na busca de recompensas de ouro ou mirra. Em suas trajetórias
hieráticas, não se traíram, não enganaram os oprimidos que sempre foram as
chamas que os moveram de encontro aos horrores e aos inesperados que a vida
preserva aos puros de sentimentos.
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